sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

QUEM TEM MEDO?

Quando era criança,
o escuro me apavorava.
Esperava uma entidadecom narinas recheadas de algodão
entrar de sopetão pela porta de meu quarto.
E hoje?
Não largo este terço para dormitar.
De bola em bola,
vou de reza em reza
me preparando para te enfrentar.
Seus cabelos escorrem venenos,
Suas unhas prendem feito garras.
Sua língua é uma patada.
Cada palavra,uma cotovelada que amolece os caninos meus.
Dói a noite inteira.
Tomo um analgésico.
Não tem remédio para este medo.
Não existe planta ou minério que destile esta matéria prima.
Meu antídoto.
Meu isotopo.
Seu soco em meu olho.
Vago por ai todo cinzento.
Sou só doença.
Não vejo cura para tua ausência.
Uma ausência severa de ternura.

E é em noites assim
que me vem este medo,
Tão cálido e gelado.
Tenho ouvidos inflamados, minha garganta está irritada.
Para quem lê
pode não parecer nada.
Mas é todo sufocado o peito meu.
Neste leito o resmungar de meu semblante é baixinho.
No quarto escuro, revejo de novo e novamente este velho não-consolo.
O constante e latente medo me apavora de um jeito que só você sabe como é.
Como abrigo,me aposso deste espinhoso terço.
Entrego-me a qualquer deus feito oferenda em um altar.
Lembro-me de uma parte da bíblia que diz:
-Em paz me deito.
E canto entre lábios
feito reza forte
uma canção de ninar...

4 comentários:

Rosa Duval disse...

As imagens estão ficando mais fortes, as palavras mais precisas, com o fôlego alternado com o sufocamento...

Mui bom, Lucas. =)

Unknown disse...

Oi!
Muito bom...realmente excelente...
"viajei" lendo,coisa que não faço a tempos!

Continue assim ;)

Unknown disse...

Adorei... parabéns!!!

Unknown disse...

para o medo nosso de cada dia
escorrendo pelas escadas que invento
sigo o rumo impreciso dos medos teus
e nesse dialeto que rima com tuas palavras
cada parte de mim, sabe em nós,
o amarelecido do tempo singular
em nossa ãnsia sempre plural...